hoje quero dividir com você um pouco sobre o que é a Agroecologia e a Permacultura e porque elas são princípios norteadores do trabalho que eu faço.
desde quando comecei a pensar em trabalhar com plantas, me incomodava a ideia da planta puramente como mercadoria e de jardins milimetricamente podados. a minha relação com a natureza sempre foi mais pessoal, mais profunda e mais além do jardim de casa. eu sempre preferi ganhar uma mudinha da planta de alguém do que comprar uma planta nova e sempre preferi deixar minhas plantas crescerem com seus traçados próprios do que direcionar ou podar alguma coisa por motivos puramente estéticos.
mais do que isso, eu sempre tive aquele comichão de entender de onde vem as coisas, como uma semente se transforma em uma árvore inteira e por que as ruas não estão cheias de árvores frutíferas ou por que a gente tem tanta gente com fome no Brasil, mesmo sendo um dos maiores produtores de alimentos do mundo. e pra mim, essas questões nunca foram dissociadas como assuntos diferentes.
sempre me custou entender a visão que separa ser humano e natureza, porque pra mim, sempre foi o pé no chão e o cheiro da chuva que me traziam de volta pra quem eu sou.
essa relação afetiva com a história da planta, a conexão com a natureza de forma mais ampla, o inconformismo com a desigualdade de acesso e contato com a natureza (inclusive na forma de alimento) e o desejo de poder levar às pessoas não só uma horta ou um jardim, mas também um espaço terapêutico, de bem-estar profundo, de saúde e reconexão me levaram a me aprofundar em temas que iam além da jardinagem e do paisagismo.
foi então que mais ou menos nessa mesma época em que eu repensava meu caminho profissional, que eu ouvi falar sobre Agroecologia e Permacultura, em alguns momentos quase como sinônimos, em outros como coisas totalmente distintas e minha curiosidade me levou a estudar mais sobre os dois temas que acabaram se tornando os princípios norteadores do meu trabalho.
a Agroecologia
a Agroecologia surge no Brasil nos anos 80 e pode ser definida como o conjunto de conhecimentos técnicos e científicos que respeita e se combina aos saberes tradicionais, aplicados à produção de alimentos de forma sustentável.
ela surge como “agricultura alternativa” em oposição ao movimento chamado Revolução Verde, que instala o modelo de produção agroindustrial que conhecemos hoje, e se desenvolve como uma ciência não neutra, se transformando também em um movimento social ao propor um modelo produtivo que não explora o meio ambiente, os seres e as pessoas, mas sim estabelece relações de regeneração da terra e justiça social.
neste contexto, as práticas agroecológicas podem ser vistas como práticas de resistência da agricultura familiar em oposição ao agronegócio, ao processo de exclusão do meio rural e às monoculturas. está no coração das práticas agroecológicas a pequena propriedade, a mão de obra familiar, o uso de maquinários leves e de pequeno porte, em sistemas produtivos complexos e diversos e que frequentemente visam a regeneração de espaços degradados. é também uma forma de cultivo adaptada às condições locais, que busca a criação de sistemas autônomos (uso de insumos locais) e a articulação em redes regionais de produção e distribuição de alimentos.
na prática, significa uma mudança na forma de olhar a natureza, trocando um modelo exploratório por um modelo que cuida do ambiente para maximizar seus processos naturais, acelerando a regeneração e aumentando a quantidade e qualidade de vida existente em um espaço. planta-se para as pessoas, para o solo e para os seres que existem ali, estabelecendo uma relação de equilíbrio harmônico ao entender a função que cada ser desempenha no sistema.
a Permacultura
já a Permacultura surge nos anos 70, na Austrália, também em resposta à industrialização da agricultura e à degradação ambiental. significa a cultura da permanência e tem como principal objetivo construir espaços sustentáveis, que primem pela autossuficiência e resiliência.
trata-se de um conjunto de princípios éticos (cuidar das pessoas, cuidar da terra e distribuir recursos) combinado a uma metodologia de design aplicada aos espaços e parte dos recursos disponíveis no ambiente para desenhar e implementar espaços que utilizem estes recursos de forma ótima, evitando o desperdício e criando sistemas de abundância (sintropia) que sejam resilientes e autônomos.
convergências e divergências
as duas linhas de trabalho surgem em momentos ligeiramente diferentes e lugares opostos no mundo, buscando resolver um problema semelhante de degradação ambiental ao criar maneiras de aumentar a sintropia, maximizando a retenção de energia (riqueza, recurso, nutriente) no ambiente, e compartilham os mesmos princípios éticos, sendo muito frequentemente combinadas no planejamento de espaços produtivos.
a principal divergência entre a Agroecologia e a Permacultura está na escala de aplicação dos conhecimentos. por mais que os princípios éticos da Agroecologia se estendam para além do cultivo de alimentos e regeneração de espaços, é aí onde estão concentrados a essência dos seus conhecimentos. já a Permacultura, por estar associada a uma metodologia de design, amplia sua área de aplicação, podendo ser usada para pensar no desenho de melhores estruturas e técnicas de construção, tratamento de resíduos entre outros temas.
independente das diferenças, os princípios da Agroecologia e da Permacultura podem ser aplicados em qualquer tipo de espaço, porque como partem de princípios éticos, dependem muito mais da nossa forma de ocupar e interagir com o espaço, do que da disponibilidade de uma grande área rural, por exemplo. claro que existem limitações da sua aplicação em espaços urbanos, mas não seriam justamente estes os espaços mais necessitados de transições éticas e ecológicas?
pra conhecer os meus projetos e ver como eu aplico na prática esses princípios, você pode conferir a guia de projetos no Instagram da verdi. e se quiser implantar um projeto de horta agroecológica na sua casa, é só me mandar uma mensagem por whatsapp!